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Uso racional da água em debate
Partindo da premissa de que é preciso preservar e economizar água, o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja) promoveu o 1º Encontro de Gestão da Água em Assentamentos Rurais da Região da Campanha. Agricultores assentados em Candiota, Aceguá, Hulha Negra, Pedras Altas, Herval, Pinheiro Machado e Piratini, municípios que integram o Cideja, foram o público-alvo do evento, que contou com palestras técnicas e aconteceu no CTG Candeeiro do Pago, em Candiota, pela manhã e na tarde da última quinta-feira,
15. O encontro foi realizado pelo Cideja em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do Estado, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), o Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e o Fórum Regional de Desenvolvimento, Manejo das Águas e Combate aos Efeitos da Estiagem.
O superintendente estadual da Funasa, Gustavo de Mello, foi um dos palestrantes do evento. Ele falou que a gestão dos recursos hídricos passa, primeiramente, pela mudança cultural no sentido da sustentabilidade. "Que não é só ambiental, é financeira, estratégica, até porque hoje produzir água para o consumo humano custa caro", ressaltou, mencionando que não basta ter recursos financeiros
para que se obtenha êxito e a água saia nas torneiras. "Numa região onde a gestão da água tem sido um desafio constante é preciso organização, construir um entendimento sobre o que seja a gestão da água em assentamentos rurais e aí é onde se combina os elementos dos conhecimentos (geologia, qualidade da água, entre outros). É um processo permanente e que não está restrito a um governo.
É um planejamento que tem que ser protagonizado pela sociedade, pela União, pelos estados, pelos municípios", disse Mello. O superintendente destacou que é fundamental que as pessoas aprendam a
conviver e se organizem para fazer bom uso da água, sem desperdiçá-la. Ele comentou que a cobrança de tarifa é uma alternativa para que as pessoas passem a utilizar esse bem, que é tão precioso, de forma racional. Um exemplo prático bem-sucedido disso, conforme Mello, é o Sistema
Integrado de Saneamento Rural (Sisar) do Ceará, implantado no estado nordestino há 20 anos e que beneficia 435 famílias do interior. Toda a casa com o sistema tem um hidrômetro que registra o
consumo da residência. A conta chega todo mês e é a comunidade que define quanto vai pagar, já que é ela quem gerencia o abastecimento da água. O projeto, que consiste na instalação de cisternas de
placa que acumulam água para beber, ajuda a população da zona rural a conviver com a estiagem.
PÓS-OBRA - Além da importância das comunidades utilizarem a água de forma responsável,
o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da CPRM, Marcos Alexandre de Freitas, frisou que o pósobra é fundamental para garantir o abastecimento. "A gente faz poços, redes de abastecimento e, às vezes, é investido muito dinheiro e o pessoal não dá a devida manutenção", lamentou Freitas,
relatando que já houve casos de vandalismo e furtos de equipamentos em Pedras Altas, São Gabriel e Santana do Livramento. "Eles (moradores) devem assumir esse cuidado. Se tiver uma estiagem, eles vão saber que é deles mesmos, que vai estar funcionando", destacou.
O gerente também se queixou que a CPRM executou certas obras com rede de distribuição de água, no entanto não há energia elétrica nas localidades, o que impede que o serviço seja colocado em prática. "Vários poços que ficaram esperando anos e anos. Teve obras que foram feitas em 2008 e até
hoje não tem energia. Por isso, o pós-obra é muito importante",reiterou Freitas.
RESERVATÓRIOS - O coordenador do Fórum Regional de Desenvolvimento, Manejo das Águas e Combate aos Efeitos da Estiagem, e vereador hulhanegrense, Dalvir Zorzi (PT), lembrou que o órgão foi constituído em 2007, num período de muita estiagem, com o objetivo de propor alternativas para a
falta de água nas propriedades rurais, para o consumo humano, primeiramente, e também para os animais e pequenas irrigações. "Foi criada uma organização pelas câmaras (de vereadores da região) para trazer o desenvolvimento. Em Candiota e Hulha Negra, em torno de 300 famílias (do interior
desses municípios) já têm água potável em casa", ressaltou Dalvir, acrescentando que é preciso investir na construção de reservatórios. Agora, por exemplo, neste período de excesso de chuvas,
não há nas localidades um local específico para armazenar a água da chuva, que pode ser utilizada para a irrigação e pelos animais.
AVALIAÇÃO POSITIVA - A primeira edição do encontro reuniu 110 pessoas, entre agricultores assentados, técnicos e lideranças políticas das cidades que compõem o Cideja. Entre os presentes
estavam o diretor do Departamento de Desenvolvimento Agrário da SDR, Ricardo José Núncio, os
prefeitos de Hulha Negra, Erone Londero (PT), e de Pinheiro Machado, Felipe da Feira (PTB), o prefeito em exercício de Candiota, Paulo Brum, a vice-prefeita de Pedras Altas, Lidia Maria de
Azevedo Soares, e secretários e vereadores da região. Na abertura do encontro, a primeira-dama de
Candiota, Ana Scholl, agradeceu a presença de todos e falou em nome do prefeito e presidente do Cideja e da Federação das Associações dos Municípios do RS (Famurs), Luiz Carlos Folador (PT), que pediu para comunicar aos participantes do evento que ele não pôde comparecer porque estava
cumprindo agenda em Porto Alegre.
O coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Mario Lill, participou
do evento. Ele lembrou que o Programa Água para Todos, do governo federal, foi criado há cinco anos depois de uma grande mobilização do MST no trevo de Hulha Negra. "Só a partir da luta,
senão as coisas não saem do papel. É preciso desburocratizar, senão a coisa não vai para frente", enfatizou Lill, com base, segundo ele, em sua experiência de 30 anos junto ao movimento.
Erone, que é prefeito de Hulha Negra e secretário do Cideja, reforçou a importância do uso racional da água e que a gestão desse bem, que é finito, tem que ser bem-feita. Ele destacou ainda que está em andamento um projeto de R$ 40 milhões, via Ministério da Integração Nacional, para construções de redes de água e poços artesianos nos assentamentos da região.
De acordo com o prefeito, o governo do Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), licitará o projeto. O assentamento da Rubira, em Piratini, já conta com poço artesiano e rede
de distribuição de água. "O poço garante o abastecimento de água de qualidade", afirmou a agricultora assentada da comunidade, Roberta Coimbra, 36 anos, que prestigiou o encontro. Ela destacou ainda que a localidade onde mora é rica em nascentes e que as mesmas devem ser protegidas. Roberta disse que há no município lotes que dispõem de muita água e outros que contam com pouca quantidade do mineral. Em sua opinião, é fundamental garantir o acesso de todos à água.
Criadora de gado de corte e produtora de frutas, sementes olerícolas e ervas medicinais, Roberta utiliza a água de um pequeno açude para alimentar os animais. A diretora executiva do Cideja, Débora Cappua Vivian, avaliou positivamente o encontro e comunicou que os assuntos pontuais
que foram levantados no evento serão avaliados em uma reunião técnica que acontecerá no dia 29 de outubro, na sede da CPRM, em Porto Alegre. O Cideja pretende promover, em breve, novas edições do encontro. Para isso, conta com a participação e a contribuição da sociedade civil, de forma que sejam encontradas soluções para que todos os moradores das comunidades rurais da região tenham
acesso à água potável.