quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Jornal Tribuna do Pampa (Candiota) - 29 e 30 de outubro de 2015






LEIA A NOTÍCIA:
Operação Antracito investiga possíveis fraudes em licitações na Usina de Candiota
Trabalho teve como base relatório da Controladoria-geral da União, em 2013, que apurou falhas graves em contratações, bem como, em investigações internas da própria CGTEE e denúncia da presidência à Polícia Civil

A Controladoria-geral União (CGU), em parceria com a Polícia de Repressão aos crimes contra a Fazenda Estadual do Rio Grande do Sul, realizou nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira, 28, a Operação Antracito (ver significado no final da reportagem). O objetivo, segundo os investigadores, foi averiguar as suspeitas de atuação de um grupo acusado de fraudar processos licitatórios na Usina Termelétrica de Candiota, de propriedade da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE) - empresa federal subsidiária da Eletrobras. O trabalho teve como base o relatório de auditoria anual de contas da Controladoria na CGTEE, em 2013, que verificou falhas graves em procedimentos licitatórios, como contratações emergenciais por dispensa de licitação (com falta de celeridade e planejamento), fracionamento de despesas, e realização de pregão presencial, sem justificativas, para a não realização de certame na modalidade eletrônica. 
Também a própria CGTEE já vinha realizando investigações internas, dentre elas, processos-administrativos disciplinares (PADs), que chegaram a sugerir demissões de funcionários. As investigações também apontam possíveis irregularidades como aquisição de bens por meio de processos irregulares ou inexistentes; fracionamento das quantidades e dos valores a serem adquiridos; aquisição de bens de um mesmo grupo de empresas; superfaturamento; e constatação de que a maioria das empresas do grupo (cerca de oito) tinha como sede um imóvel residencial, não tendo loja física ou estoque. Há indícios de que estavam ocorrendo crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, peculato, corrupção ativa e passiva. Entre os investigados, há funcionários da CGTEE que são ou foram dos setores de suprimento e almoxarifado (estes da Usina de Candiota) e da diretoria financeira (Porto Alegre). Não foram divulgados nomes dos suspeitos e das empresas acusadas. 
Numa das apurações, segundo a CGU e a Polícia, constata-se que empresas pagas por supostamente terem fornecido mercadorias para a Usina, sequer existiam ou ainda, que algumas, apesar de aparecerem em disputa como concorrentes, estavam registradas em um Investigadores da Polícia Civil e da CGU vasculharam documentos na sede da CGTEE e denúncia da presidência à Polícia Civil mesmo endereço. Foi apurado que um terço das compras realizadas por Candiota em 2013, por dispensa de licitação, tiveram como beneficiárias sempre as mesmas oito empresas - a grande maioria delas de Pelotas. 
Segundo o delegado Joerberth Pinto Nunes, titular da Delegacia Fazendária, as investigações, que iniciaram em 2012, apontaram que, em determinadas compras efetuadas pela CGTEE, houve fracionamento de valores para que fosse permitida a dispensa de licitação. "Desta forma, era possível direcionar as compras para determinadas empresas, caracterizando o seu favorecimento, muitas vezes para empresas de fachada. Uma das supostas empresas que vendeu para a CGTEE, negociação com um valor bastante significativo, na verdade trata-se de uma casa humilde na cidade de Alvorada", afirmou o delegado Joerberth. 
O chefe da CGU no Estado, Claudio Moacir Marques Corrêa, disse que desde 2012 as auditorias de prestação de contas apontavam dispensas indevidas, fracionamento de despesas para fugir da licitação e emergencialidades que não se configuram como emergências. Conforme ele, o relatório da auditoria referente ao exercício de 2014 ainda não está concluído. "Estávamos cobrando medidas para mitigar esses problemas", assinalou. 
Durante a ação foram apreendidos documentos referentes a compras e contratação de serviços, que além da CGU, também serão analisados pela Delegacia Fazendária da Polícia Civil. O valor do prejuízo financeiro será calculado após a análise dos documentos apreendidos. Entretanto, apenas dois contratos analisados somam R$ 43 milhões. 
Os 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos na sede da CGTEE, em Porto Alegre, em casas de funcionários públicos, nas empresas acusadas de participarem do suposto esquema, bem como, na Usina de Candiota. Também foram cumpridos mandados em Alvorada, Pelotas e Bagé. Cerca de 100 policiais civis, juntamente com auditores da CGU de Brasília e Mato Grosso do Sul participaram da ação. A ação também teve o apoio do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (DENARC). 

SERENO DENUNCIOU - Em entrevista ao jornal Zero Hora, o diretor-presidente da CGTEE, Sereno Chaise, disse que encaminhou suspeitas de fraude em Candiota à Polícia Civil por estar insatisfeito com o andamento do assunto dentro da Companhia. “Foi determinada demissão de dois funcionários e nada aconteceu. As decisões aqui são de colegiado. Levei o caso para a Polícia Federal, que disse que era de competência da Polícia Civil. Entregamos na Regional de Bagé e agora está aí o resultado”, declarou Sereno a ZH. Ainda em entrevista ao jornal da capital, Sereno acusa o diretor financeiro da CGTEE Clóvis Ingenfritz de Imprensa Polícia Civil I Especial TP não ter demitido dois funcionários, depois de apuradas responsabilidades deles em investigação interna. “Foi o Clóvis Ingenfritz que não demitiu. E ele não tem explica- ção para isso. Não cabia a mim. Em Candiota, as pessoas foram afastadas do setor (almoxarifado), mas só isso. Não houve punições", ressaltou Sereno. O TP tentou contato tanto com Sereno, assim como com Ilgenfritz na tarde desta quarta-feira, 28, entretanto sem sucesso. Durante entrevista à RBS, no momento que ocorria as apreensões na sede da CGTEE em Porto Alegre, Clóvis Ilgenfritz demonstrou muita irritação com a forma que estava sendo feita a operação. "Nós não podemos aceitar que um monte de gente venha aqui vasculhar sem nenhuma prova", esbravejou. 

NOTA DA CGTEE - A assessoria de imprensa da CGTEE informou por volta das 17h40 desta quarta-feira, de que a Eletrobras Holding estava preparando um Comunicado ao Mercado sobre a operação Antracito, entretanto até o fechamento desta edição, por volta das 20h30, o material ainda não havia sido distribuída. 

O QUE É ANTRACITO - A denominação dada para a operação, remete, segundo o dicionário, a uma variedade de carvão de pedra muito rica em carbono (de 90 a 95%), que contém muito menos hidrocarboneto que as outras variedades, arde sem soltar fumaça, com chama muito curta, e tem grande poder calorífico.